Foto: Élio Kohut - Intervalo da Noticias
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva conversou com nove
correspondentes de veículos estrangeiros no Brasil. Copa, Fifa,
protestos, economia, educação, segurança pública, eleições e política
também pautaram a conversa. Manteve o tom descontraído já conhecido
pelos jornalistas e não abriu mão de falar muito de futebol, deixando
claro o desejo de assistir à final disputada entre Brasil e Argentina no
Maracanã, no Rio, no próximo dia 13.
Ele descartou que a Copa do Mundo possa
influenciar as eleições presidenciais de outubro, criticou o
“terrorismo” midiático contra a organização do evento e disse que os
protestos contra a competição foram “dizimados pelo povo”. Lula
considerou que a classe política no Brasil e nos organismos
internacionais está “podre”, motivo pelo qual é necessária uma reforma
integral em nível global e local, e que é preciso convencer os jovens
para que evitem “a negação da política” e se integrem a projetos
coletivos.
Disse ainda que o Brasil está “orgulhoso da organização da Copa”, da
qual foi o mentor político em 2007, quando o país foi escolhido como
sede. “Não acho que o resultado (esportivo) da Copa possa influenciar na
questão eleitoral. Eu fui eleito em 2002 vencendo o governo de então
depois que a seleção venceu o Mundial e reeleito em 2006, após a
eliminação na Alemanha”, lembrou .
O ex-presidente destacou a pesquisa divulgada hoje pela Datafolha na
qual a presidente Dilma Rousseff recuperou 4 pontos percentuais nas
intenções de voto. “A Copa do Brasil, mesmo com todo o terrorismo que
fizeram, é a terceira com maior público da história, com todos os
estádios cheios e bom futebol”, acrescentou. Segundo ele, sem o
“terrorismo que venderam” talvez o país tivesse recebido mais turistas.
“Falavam de caos nos aeroportos, em todos os lados, assaltos, mas o
verdadeiro caos ocorreu com as seleções de Espanha, Itália e Inglaterra,
que eram favoritas e saíram antes do tempo.”
Lula afirmou ainda que muitas pessoas “queriam o fracasso da Copa” e
citou o ex-jogador Ronaldo, que se declarou “envergonhado” pela
organização uma semana antes da competição apesar de ser membro do
Comitê Organizador Local (COL).
“Muitas pessoas não foram verdadeiras com o Brasil, tentaram vender
desgraças. Neste país se trata bem a todos os estrangeiros. Se um
estrangeiro que vem ao Mundial entra na casa de um pobre, não sai sem
tomar um café ou de comer uma galinha”, comentou.
O entrevistado enfatizou que a maior parte
dos investimentos em obras para a Copa não partiu dos cofres públicos,
mas sim de créditos que serão cobrados, e lembrou que seu governo
começou a “tirar o país do atraso” de séculos em termos de emprego,
renda, educação e saúde pública.
“O povo aprendeu a distinguir a verdade da mentira”, enfatizou após
qualificar sua gestão como “uma revolução social” com a ascensão social
de mais de 40 milhões de pessoas. Sobre os protestos que se esperavam
contra a Copa, Lula disse que as manifestações foram “dizimadas pelo
povo brasileiro”.
“Houve um momento de protestos e agora é o momento que o povo
escolheu para ver a Copa, uma das nossas paixões nacionais. Em minha
vida política carreguei todas as bandeiras de protestos, mas agora temos
que protestar contra os rivais do Brasil”, disse.
Ao ser perguntado sobre a brutalidade policial em São Paulo e outras
cidades contra os protestos, Lula respondeu dando como exemplo sua
participação nos protestos contra o fechamento das minas na Inglaterra
ou nas cúpulas do G-8 nos Estados Unidos e Europa. “O Mundial está sendo
mais tranquilo que outros, graças ao povo brasileiro”, opinou.
Lula previu que, depois da Copa, parte da imprensa começará a falar
sobre as demoras nas obras dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro de
2016. “Todas as obras que foram feitas e que continuarão sendo feitas
serão para o povo brasileiro. Não terminam com a Copa ou as Olimpíadas…
No Rio deixarão a cidade ainda mais bonita.”
São Paulo - O ex-presidente afirmou que a política
de segurança pública no estado de São Paulo, governado pelo PSDB,
“fracassou” já que o crime organizado alcançou níveis de “organização
política”. “No estado de São Paulo o crime organizado tem força quase de
organização política e isso demonstra o fracasso da política de
segurança do governo do estado, que afeta, principalmente, os pobres e
os negros das periferias”, disse.
Ele destacou que na corrida para as
eleições presidenciais de 5 de outubro, nas quais a presidente Dilma
Rousseff tentará a reeleição, não há candidatos de São Paulo pela
primeira vez desde 1989. “Será a primeira eleição nacional sem
candidatos presidenciais de São Paulo. Se analisamos o comportamento do
candidato opositor (Aécio Neves), ele é o grande inimigo de São Paulo. É
o que dizem em Minas Gerais, onde também dizem que tinha muita censura
da imprensa”, declarou.
Segundo o petista, pelo fato de não ter candidatos paulistas, Dilma
tem grande chance de ter mais participação na campanha no estado.
Economia - Questionado sobre a economia brasileira,
disse que o Brasil tem sofrido da mesma desaceleração do crescimento que
atinge a Europa e os Estados Unidos, mas que o país tem criado empregos
em ritmo mais rápido.
“Obviamente o PIB (
Produto Interno Bruto) nosso não é o PIB
que a gente gostaria”, observou, acrescentando: “Quando as pessoas acham
que o Brasil não cresceu muito nestes últimos quatro anos, a pergunta
que faço é: ‘Quem cresceu mais do que o Brasil’?”
O ex-presidente antecipou que a presidenta Dilma Rousseff quer
impulsionar uma reforma política para “ganhar participação e
transparência”. Ressaltou que não é preciso reformar apenas o Brasil,
mas também muitas outras partes do mundo: “Há muitas coisas podres na
política atual. Veja como terminou a Primavera Árabe, ou o que significa
que na ONU nem a Índia nem os países latino-americanos estejam
representados no mais alto nível”.
América Latina - Lula
descartou
a existência de um ciclo de decadência nos países da América Latina e
defendeu os processos políticos na Argentina, na Venezuela, na Bolívia e
na Colômbia. “Não vejo nenhuma decadência na América Latina, que nunca
antes em sua história viveu em estabilidade como vive hoje”, afirmou.
Lula respaldou o governo argentino de
Cristina Kirchner na disputa com os fundos de investimento conhecidos
como “abutres”. “Desde que Néstor Kirchner assumiu, em 25 de maio de
2003, escuto dizer que a Argentina vai quebrar. O fato é que é um país
extraordinário que está conversando sobre o tema da dívida”, citou.
O presidente da Bolívia, Evo Morales, também foi exaltado por Lula
por ter estabilizado a economia do país andino e ter conseguido acumular
reservas internacionais de US$ 15 bilhões, “o que representa quase a
metade de seu PIB”.
Sobre a Venezuela, disse que existe um “pessimismo louco” contra o
governo de Nicolás Maduro e que o o país “tem um potencial
extraordinário”, comentou.
O ex-presidente também aplaudiu a reeleição de Juan Manuel Santos à
presidência da Colômbia por promover o diálogo de paz com a guerrilha
das Farc. “Com esse acordo estaremos livres do único foco de violência
em nossa querida América do Sul”, disse.