Foto: Portal PT
Prepare-se para o susto: a sua conta de luz poderá subir em 30% a
partir de 24 junho. Esse reajuste está sendo pedido pela Copel à Agência
Nacional de Energia Elétrica (Aneel), segundo confirmou o presidente da
companhia, Lindolfo Zimmer, em entrevista que o jornal Valor Econômico,
de São Paulo, publicou na segunda-feira.
De acordo com o
levantamento de consultorias que acompanham o setor, o aumento das
tarifas da Copel será o maior dentre todas as distribuidoras do país. E
vai atingir não apenas o consumidor doméstico comum, mas causar forte
impacto no setor industrial, altamente dependente de energia barata.
Por que aumento tão grande, assim de repente? Aí, em linguagem
esotérica, inacessível aos simples mortais, o presidente da Copel joga a
culpa em fatores externos, dentre os quais o atraso na construção de
algumas hidrelétricas no país (Jirau, por exemplo) e de usinas térmicas
que nem saíram do papel.
Em razão da baixa oferta (deduz-se da entrevista), a energia ficou
mais cara. E para cumprir seus contratos de fornecimento, a Copel teve
de comprar energia de terceiros, em leilões, a preços astronômicos, e a
vender essa mesma energia a preços muito mais baixos. A culpa, pelo
jeito, envolve também São Pedro, que negou ao Brasil a quantidade
necessária de chuvas para manter as hidrelétricas em produção plena.
São Pedro e Dilma
Fora São Pedro, a culpa chega à presidente Dilma Rousseff, que em
2012 baixou medida provisória que alterava o regime de concessões de
usinas já amortizadas. No caso do Paraná, por exemplo, a medida
atingiria a mais emblemática obra de engenharia do setor, a Hidrelétrica
Parigot de Souza. O Paraná não quis aderir à MP, assim como São Paulo e
Minas Gerais. O objetivo da medida era reduzir os preços médios da
energia pagos pelo consumidor.
Mas a coisa é mais complicada. Tão complicada que fica muito difícil
entender a necessidade de tão exorbitante aumento solicitado logo após a
Copel ter divulgado balanço que demonstra ter obtido no trimestre
passado o maior lucro de sua história, R$ 583 milhões, 46,3% superior ao
do exercício anterior. “Esse foi o melhor resultado da nossa história,
em 60 anos”, comemorou Zimmer na entrevista. Ainda assim faz mais uma
previsão catastrófica do presidente: no ano que vem, a Copel será
forçada a aumentar de novo a energia em índice de dois dígitos.
Paradoxo
Logo, trata-se de um paradoxo que nem mesmo um experiente ex-diretor
da Copel, que fez carreira na empresa, soube desvendar ao ser consultado
pela coluna. A fonte estranhou: “No ano passado, o governador Beto
Richa adiou um reajuste de 4,6% e agora acha que precisa de 30%?”,
indagou. Mas ele lembra: a recusa do governo estadual de subir a tarifa
no ano passado se deu durante o calor das manifestações que levaram
multidões às ruas em junho.
Portanto, houve lá, no ano passado, uma motivação política para não
subir a tarifa. Mas este ano tem eleição e o governador é candidato a
permanecer no cargo. Assim, propor agora, às vésperas da eleição, um
reajuste muito maior, seria colocar em perigo o seu projeto reeleitoral.
Política em jogo
Candidata do PT ao governo, a senadora Gleisi Hoffmann – que era
chefe da Casa Civil na época em que foi baixada a medida provisória
contestada por Richa – percebeu logo a politização do tema. E já na
manhã de ontem, tão logo soube da pretensão do governo de aumentar a
luz, já dava entrevistas a emissoras de rádio de Curitiba.
Segundo ela, o reajuste é “injustificável”: o alto preço da energia
praticado atualmente é meramente conjuntural, causado pela falta de
chuvas, o que obrigou a entrada em operação das usinas térmicas, cuja
produção é muito mais cara. Para Gleisi, trata-se de uma situação
passageira e que deve ser corrigida naturalmente com a normalização do
regime de chuvas. Ela entende que é um despropósito prever a necessidade
de reajuste de dois dígitos em 2015 sem antes saber como a meteorologia
se comportará.
Talvez a resposta (política) do governo venha logo após a decisão
técnica da Aneel de conceder o aumento de 30% – o que pode ocorrer no
máximo até a semana que vem. E a resposta seria não implementar o
reajuste cheio, mas quem sabe só de uns 15% ou 20%... Não seria uma
oportuna “bondade” oferecida aos eleitores?
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